De entre todos os órgãos do nosso organismo, destaca-se o cérebro pelo conjunto de funções que domina e coordena. É uma estrutura maravilhosa, sendo a fonte de todo o comportamento humano, controlando ao mesmo tempo um enorme número de funções incrivelmente complexas.
O cérebro recebe informação e transmite-a aos locais apropriados pelo o seu processamento, permitindo à pessoa agir com base nessa informação. Ele gera variadas emoções e é também a fonte da cognição, da memória, dos pensamentos e daquilo a que chamamos inteligência.
Para compreendermos o funcionamento do cérebro temos que começar por analisar o funcionamento geral do cérebro.
As células deste órgão, células gliais e neurónios, comunicam entre se através da circulação da informação (impulso nervoso), o que gera uma corrente electroquímica - influxo nervoso.
É através da sinapse que ocorrem a transmissão de informação entre dois neurónios ou entre um neurónio e uma outra célula (por exemplo: uma célula muscular).
Funcionamento global do cérebro
O Sistema Nervoso está dividido:
A espinal medula tem uma dupla função – coordenação e condução. Coordena a actividade reflexa e conduz as mensagens do cérebro para o resto do corpo e vice-versa.
Apesar de dividido em várias partes,o cérebro funciona como um todo. Todas as suas estruturas se complementam.
- Hemisférios Cerebrais
O nosso cérebro encontra-se dividido em dois hemisférios, situados um de cada lado – lateralização hemisférica.
Cada um destes hemisférios tem funções específicas. O hemisfério direito é responsável pela formação de imagens, pelas relações espaciais, pela percepção das formas, das cores e das tonalidades afectivas, bem como pelo pensamento concreto. Por sua vez, o hemisfério esquerdo do cérebro controla o pensamento lógico, a linguagem verbal, o discurso, o cálculo e a memória.
Contudo, apesar de cada uma das partes ter determinadas funções, elas não funcionariam em pleno, uma sem a outra. Ou seja, os dois hemisférios cerebrais interagem e complementam-se. Daí se dizer que o cérebro funciona como um todo e que o seu funcionamento é sistémico.
- Lobos Cerebrais
O cérebro, como já referimos, está dividido em dois hemisférios. Ora, por sua vez, cada hemisfério encontra-se dividido em quatro lobos – frontal, parietal, occipital e temporal.
Cada um dos lobos integra duas áreas – a primária (que recebe os estímulos vindos do exterior) e a secundária (cuja função é processar os estímulos captados pela área anterior).
As suas funções das determinadas áreas e os efeitos de lesões aí provocadas, bem como o seu nome, estão sintetizadas no seguinte quadro:
- Áreas pré-frontais
Estas áreas estão intimamente relacionadas com a memória, permitindo-nos recordar o passado, planear o futuro, resolver problemas, antecipar acontecimentos, reflectir, tomar decisões, criar o próprio mundo. E, para além de assegurarem todas estas funções, permitem-nos ainda tomar consciência delas.
No entanto, não é apenas com o pensamento que as áreas pré-frontais estão relacionadas. Também se prendem complexamente com as emoções.
O nosso centro emocional é o sistema límbico.
Acontece que se ocorrer uma ruptura entre as áreas pré-frontais e o sistema límbico, se não se estabelece uma relação entre as duas áreas, passa a existir uma indiferença afectiva.
Existem casos documentados (como o de Phineas Gage e de Elliot) em que essa ruptura ocorreu, a comunicação entre os dois centros não era efectuada, e os indivíduos deixaram de expressar emoções e foram provocadas graves e profundas alterações nas suas personalidades. Em ambos os casos, a capacidade de tomar decisões foi perdida – não conseguiam controlar a sua vida nem pela razão nem pela emoção.
É muito importante referir que não é só a razão que guia as nossas escolhas. Também as emoções podem ser guias das decisões que tomamos.
Podemos então concluir que o nosso cérebro funciona de forma sistémica. Este órgão é um conjunto de elementos em que as componentes especializadas que o constituem são interdependentes, funcionam de forma integrada. Ou seja, apesar de dividido em várias áreas com funções específicas, todas elas trabalham de forma integrada, sistémica. Complementam-se.
A função vicariante é uma característica do cérebro que permite que uma função seja recuperada por uma área vizinha, quando ocorre uma lesão numa determinada área. É por isso que, com terapias adequadas, as pessoas que sofreram lesões na área de Broca – que produz a linguagem falada – podem não sofrer de afasia de Broca. Isto é, podem não deixar de falar. Podem recuperar essa função devido à característica vicariante do cérebro.
A plasticidade é outra característica cerebral, intimamente relacionada com a anterior, que nos permite, por exemplo, aprender.
Vamos adquirindo conhecimento ao longo de toda a vida porque o nosso cérebro “estica, é plástico”. Isto é, não existe uma rigidez cerebral. Segundo Egas Moniz, “A mecânica cerebral não tem a fixidez de uma máquina”.
Por isso, vamos acumulando conhecimentos, aprendizagens, experiência ao longo de toda a nossa vida – sim, porque ao contrário do que se pensa, o nosso cérebro tem capacidade para aprender seja qual for a nossa idade, devido à sua plasticidade. É também esta característica que permite que a função vicariante exista.
Isto porque o ser humano nasce imaturo, no sentido em que não tem as suas capacidades desenvolvidas quando nasce. É por isso que a infância demora tanto tempo: é o período de desenvolvimento do cérebro.
No entanto, ao contrário do que possa parecer, essa lentificação traz muitas vantagens: facilidade de adaptação a outros meios e de enfrentar situações imprevistas com eficácia; capacidade de realizar variadíssimas tarefas. Além disso, durante o período de desenvolvimento cerebral e devido à sua plasticidade, é possível uma individuação, uma distinção do indivíduo em relação aos restantes membros da sua espécie: é possível tornar-se único.